sexta-feira, 15 de abril de 2016

Uma história de uma criança invisível



Dados estimados pela ONU

Assustadas, desesperadas e exaustas, famílias fogem da violência na Síria.

Em apenas 24 horas, cerca de 10 mil mulheres, homens e crianças fugiram da Síria devido a escalada da violência em todo o país. 

Como a situação de segurança continua a piorar, os refugiados estão cruzando as fronteiras da Jordânia e do Líbano.

As famílias que chegam aos campos de refugiados e encontram locais superlotados e eles só trazem consigo pouco mais que a roupa do corpo em pequenas malas ou mochilas.

Milhares de sírios fogem do seu país todos os dias. 

A decisão geralmente ocorre depois de verem seus bairros bombardeados ou membros da família mortos.

Os riscos da fuga podem ser tão altos quanto à permanência: famílias caminham quilômetros durante a noite correndo o perigo de serem baleadas por atiradores ou sequestradas por soldados.

Outros tentam a sorte em botes no Mar Mediterrâneo. Infelizmente, alguns acabam tendo o destino trágico do menino sírio de 3 anos morto afogado...


Minha história.... 





Eu quase não me lembro do rosto da minha mãe, não restou sequer um retrato dela...

O meu pai era médico ele salvava vidas, mas não pôde salvar a minha mãe.

Ele também não sobreviveu...

Meus pais morreram na guerra, estou sozinha no mundo, agora.

Nós tínhamos uma casa bonita, eu brincava muito com muitas amigas, hoje cresci um pouco e só tenho a Raja uma boneca velha que encontrei no lixo.

Meu nome é Fátima, sou uma das 106 mil crianças imigrantes abandonadas na Europa.

No barco em que eu estava houve um acidente e várias pessoas morreram afogadas, inclusive crianças.

Eu tinha sonhos, minha mãe me dizia que eu era muito inteligente.

Agora sou uma refugiada, vulnerável, órfã e abandonada à própria sorte e à maldade humana, mas sou apenas uma criança.

Estou na Itália agora, me disseram que aqui eu teria uma vida melhor, um futuro melhor.

Quando cheguei aqui percebi que tudo era mentira, que minhas esperanças eram inúteis e que as pessoas aqui são ruins.

Nós, as crianças refugiadas e sozinhas. sem ninguém para nos defender, para falar por nós, para nos acolher, ficamos como presas fáceis para o crime organizado que acabou nos aliciando e explorando.

Expostas às ações dos aliciadores só nos restaram duas alternativas: sermos exploradas sexualmente ou vendermos drogas para sobreviver.  

Não há ninguém para tomar conta de nós, ninguém que se interesse em nos ouvir,  somos vozes caladas, vidas apagadas.

Um menino que conheci, tinha 12 anos, ele vendia drogas para comprar comida porque ele não queria, como outros garotos, fazer sexo com homens italianos para poder ganhar dinheiro.

Vi coisas e fizeram coisas comigo que jamais quis e nunca pensei.

Conheci um mundo cruel, injusto, desumano e sujo.

Não sei se existem pessoas boas aqui, não conheci nenhuma...



Sonhei em ir à escola, em ter um lugar seguro para morar e dormir, ter uma comidinha quentinha e gostosa, ter um futuro melhor, porém hoje nem sei se terei um futuro...

Uns trabalham como escravos, vendem drogas, outros vendem a si mesmos, muitos por apenas um prato de comida, a nossa vida vale muito pouco e para nós viver assim é um inferno.

Estou cansada, muito cansada, meu corpo está despedaçado, minha alma mutilada...

Não sei por quanto tempo aguentarei sobreviver...


No entanto, quem quer saber? A quem interessa o nosso sofrimento, o nosso lamento?

Eu sou alguém de que ninguém faz caso algum.

Eu sou uma voz sem voz, um grito mudo, uma luz que se apagou.

Eu choro e não tem quem me console.

À noite fico com medo de dormir, mas não tem ninguém para me acalmar e me acalentar, ninguém para me dizer que tudo vai ficar bem.

Quando tenho pesadelos chamo mamãe, mas ela não está mais aqui para me ajudar, ela foi morar nas estrelas.

Vejo meus sonhos em decomposição, vejo morte, vejo dor, vejo meninas como eu mortas vivas, vejo lodo, vejo maldade, não há esperanças...

Todos estão muito ocupados com suas próprias vidas, com seus próprios problemas, em suas próprias casas.

A Raja ainda está comigo, eu a protejo dos homens maus...

    

Nota: Fotos apenas ilustrativas


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